domingo, 3 de junho de 2018



ANALFABETA
“e de que serve um livro sem imagens?”
Lewis Carroll          
        Alguns anos atrás, quando eu ainda era uma criança analfabeta, eu via o mundo de um jeito bem diferente. Via as placas das ruas, os cartazes, textos, etc que para mim eram apenas símbolos, sem nenhum significado. E ao pegar os livros, eu mesma inventada as histórias, pois ao meu ver aquelas letras não tinham o menor sentido, por isso não entendia como alguém pudesse se divertir lendo um livro sem imagens. Bom, mas depois de passar pelas difíceis e dolorosas aulas de português do primeiro ano do fundamental, virei uma nova pessoa que agora sabia ler e escrever conhecia todas as letras do alfabeto, era capaz de ler um livro infantil inteiro e entender tudo. Então ao passear pelas ruas para compensar os vários anos que eu não sabia ler, lia todas as placas, cartazes, anúncios, nomes de lojas e restaurantes possíveis que eu encontrava. Para mim agora tudo fazia sentido, e quando relia os livros percebia como era muito diferente do que eu inventava.
         Mas aí me deparei com um problemão, olhei para uma folha onde havia letras, mas não eram como as que eu conhecia, eram todas ligadas e faziam voltas e círculos, eu não entendia nada o que estava escrito, o que seria aquilo? Comecei a surtar, fui desesperada perguntar para o meu pai o que era aquelas letras esquisitas. E foi ai que conheci a letra cursiva, a malvada e desprezada letra cursiva. Tive de passar de novo aquele sofrimento para aprender essa nova linguagem. E mal sabia eu o que enfrentaria pela frente com as regras gramaticais, que até hoje não sei direito.  

quinta-feira, 26 de abril de 2018


O Desejo Insaciável
         A criança de quatro anos, ao passear com sua mãe, logo avista a grande loja de brinquedos. Bonecas de diversos tipos, bichinhos de pelúcia, pistas de carrinhos, fábricas de massinha, brinquedo engenhosos e modernos, apenas naquela vitrine, que, para a criança, era um sonho em forma de brinquedo. Já para mãe, era apenas uma loja que a menina logo pediria para entrar.
         E como a mãe já imaginava, a filha apenas com um olhar meigo deixa claro de que quer entrar. A mãe avisa, pela quinta vez só nessa tarde, que a menina não poderá entrar na loja. Pois, no exato momento que entrar, irá pedir uma dúzia de brinquedos. E como ela já tinha ganhado cinco brinquedos só nesse mês, a mãe não compraria mais nada.
         A menina, já desesperada, diz que só quer entrar e ver os brinquedos e não comprar nenhum. Então a mãe, convencida pela fofura da garota, entra na loja. Os olhos da menina brilham de alegria. E, sem resistir, ela traz alguns brinquedos para perto da mãe, que balança a cabeça em negação ao pedido. A filha, sem saber o que fazer, começa a chorar e berrar. Todos da loja olham para o escândalo da menina, e a mãe da um sorrizinho  para disfarçar. A garota diz que não vai sair da loja se a mãe não comprar os brinquedos. E a mãe tomando uma atitude, sai da loja, esperando que a menina, com medo, a siga. Mas a garotinha fica imóvel com os olhos cobertos de lágrimas. E então a mãe, já irritada, entra na loja e arranca um dos brinquedos da mão da criança, joga no caixa pagando com uma cara de ódio.
          Nos próximos três dias, a menina não largava o brinquedo. Era um coelhinho de pelúcia com o pelo branco e os olhos vermelhos, que ela levava para todo canto, exibindo-o para todas as crianças do bairro, da pracinha e da escola. Parecia mesmo que em fim ela havia se apegado a algum brinquedo. Mas bastou passar uma semana para o coelhinho ser esquecido nas prateleiras do quarto, junto dos outros milhares de brinquedos esquecidos pela menina. E lá estava ela, entediada numa plena tarde de domingo, deitada ao chão da sala, se queixando de não ter nenhum brinquedo para brincar. A mãe, irritada com a situação e arrependida de ter comprado o coelhinho, diz que nunca, jamais comprara outro brinquedo para a criança. 
           Semanas se passaram e lá estavam as duas, mãe e filha, passeando peles ruas, quando avistam uma nova loja de brinquedos...